sexta-feira, dezembro 29, 2006

Não sou do tipo que guarda sonhos.
Prefiro extravasa-los.

Sonhos e as coisas "pra sempre"só existem enquanto são.
depois de guardados, só servem pra reCORdar.

E ninguém sabe os sonhos decor[E]
o suficiente,pra revive-los ou ressonha-los.

Guardar sonhos, é como viver de lembranças não vividas.
É encher o coração de espectros do que poderia ter sido, mas nao foi.
Tentar recorda-los é morrer de saudade do que não viveu.

Não sou do tipo que guarda sonhos,
Existem pessoas que não passam de pacotes vermelhos de sonhos guardados.

Eu prefiro ser um saquinho de surpresas!

terça-feira, dezembro 26, 2006

risco e razão

vamos correr pra ver as fotos em movimento?
Corre você!
eu corro.
e seu olhar corre comigo
eu tento fazer o mundo girar
e você aprende a segurar o que escorrega por meus dedos

me jogo entre os carros
sento no meio fio
esperando
você lentamente caminha quando o sinal tá verde
A salvação é pelo risco disse Clarice Lispector
Eu grito isso no seu ouvido

não aprendi a calcular meus passos
nunca gostei muito de cálculos
Você nunca deixa entornar o caldo
Você sempre se deu bem com caldos
Me ensina.
E aprende, criatura!

Nem metades, nem extremos
somos um traçado de giz no chão
eu, o risco
você, a razão

quarta-feira, dezembro 20, 2006

uma ilha pode ser um mundo
é só você não parar de olhar pro chão
*
*
horizonte é para fracos
meu negócio é a verticalidade das coisas
*
*
só rimo céu
com suor (gosto de desafios)
*
*
coloquei três moedas no meu cofre
o mais precioso mesmo é a onomatopéia tintilante
*
*
boca cabe na cara
garganta é que precisa ser funda
Atenta
eu sempre fui atenta a coisa alguma
Eu queria ter pra quem dizer palavras de amor
a morte é mórbida e fria
folhas só caem quando eu tenho que limpar o quintal
a única molécula válida é a minha
há três garrafas em cima do muro, toma uma pra você
faz frio lá fora
comprei um casaco novo, parece lã de verdade
tirar foto é um saco, mas eu gosto
como pode ainda não terem matado esse homem
olha aqui, eu tô pagando por isso
meu, amor, meu amor, nunca te ausentes de mim
se você pelo menos aparecesse
tá nascendo uma espinha enorme na minha cara
nossa , que bebê lindo
eu queria viajar pro Paquistão
gente como esse povo consegue comer cachorro
tem tanta gente estranha no mundo
cansei
atenta?
balela!

ronco

faminta
minta
inta
intra
fome de dentro
come de fora
come
fome
como
passa
passa
manteiga no pão

domingo, dezembro 17, 2006

feminilidade posta a prova

é preciso povoar
admito com todas as minhas forças
urro numa voz sem sentido
é preciso povoar

preciso, certo, mas não para mim
sinto jorrar de minha uma linha vermelha
óvulo não fecundado
e a minha geração se esfacelando do outro lado da telinha

não sei se me louvo por limitar a proliferação dessa espécie
se me desespero por não dar chance
ou se admiro o movimento da infecundidade
ou se simplesmente me deixo seguir passiva diante do fluxo

lema

Pouco se aproveita das conversas cotidianas ou pelo menos pouco acho que se aproveita...
Mas dia desses ouvindo uma conversa pouco profunda. [Em geral eu ouço a conversa alheia com mais entusiasmo que as minhas próprias. Um voyerismo verbal]
Enfim, estava eu num churrasco e entre todos os excessivos barulhos, um senhor conversava sobre a família.
Meu pai quando chegava em casa, nós eramos 16 filhos. Chegava com duas lapas de rapadura. Daí pedia: Mulher me dá o facão! Ele pegava e tchum, tchum tchum e partia tudo e dava pra meninada. Minha mãe ainda questionava: Mas homê não vai guardar nada pra depois não?
Aí ele dizia: O que é pouco a gente não guarda
Se farta logo e se assossega
Guardei isso pra minha vida. Eu que sempre me preocupei em economizar sentimentos. Mania de ser reservado e se reservar. Já que a essência é pouca, melhor gastar logo tudo que viver a a vontade eterna de se usar.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Aos pés de uma parede sem porta.

Madura o suficiente para melhor aceitar um não.

Madura o suficiente para separar as coisas.

Madura o suficiente para encarar os fatos.

Madura o suficiente para empatar o jogo dos outros.
suficiente para abandonar o jogo quando convir, sabendo que vai perder.

Afinal, madura e experiente.
Experiências que só servem para legitimar mais uma portada na cara.

Liberal, sensata, moderna.
Receita para efemeridades.

Aceitou os nãos,
Separou as coisas,
Encarou os fatos,
Empatou o jogo,
Abandonou,
e perdeu de novo.

Perdeu a noção.

Mais uma porta fechada.
mais uma parede sem porta:
Fazer as malas e mudar o rumo:
Estou abandonando o jogo meu bem!
Madura?
essa maturidade já me deixou verde de raiva.

Cócegas.

Transgredir não é só superficializar.

carne e libido são quentes.
O suficiente para fazer ferver algo além de sexo
Nem que seja ferver os pêlos,
arrepiar.

Segundas intenções estão além das primeiras.
não se sustentam.
mas podem sublimar o momento.

Circunstância.

qualquer cenário, qualquer música de fundo.
e o efêmero quase dura pra sempre.

São as coisas efêmeras que dão saudade
são as coisas que dão saudade
que faz a gente saber decór.
e procure saber a etimologia da palavra decorar.

Todo coração é arcada dentária.
por mais duro que seja.
dói,
mastiga,
permite com que as coisas entrem.
abocanham o que faz salivar.

nunca sentiu cócegas nos dentes?
bate o dente, reclama
e morre de rir.
bater o dente enquanto beija
só é bom se for pra rir.
faz cócegas.


A superficialidade também pode fazer cócegas no coração.

domingo, dezembro 10, 2006

odontocardiologia

dentes,
a única parte do corpo que não sente prazer.
só faz sons estranhos,
trabalha
mastiga
rói
faz restos
se arreganha
se trinca
se esfarela
se suja
se lava
sente dor
dói,
mas não sente prazer

Então é isso!
O meu coração é uma arcada dentária

domingo, dezembro 03, 2006

linda

Indo pra rodoviária. Estava atravessando aquele mar de camêlos. Barracas vendendo de tudo. Tinha meia 3 por 5 para dar de presente pros filhinhos. Olho pro lado e tem a torre enorme. Tava meio nublado e a torre ficava imponente ali parada, apontando o céu. Um céu que os comerciantes de cds piratas de música gospel deveriam almejar. Eu andando ao som do pagode de Jesus. Mais uns passos e, dvd baratinho, vamo lá freguesa. De repente o moço começa a recolher os dvds estendidos num lençol. Parece que é fiscal. Anda homem, é fiscal. A moça de calça preta colada no corpo e celular pendurado no pescoço passa por mim correndo . Logo, ela já está voltando aliviada, alarme falso. A muamba volta pro chão. Agora já entoa um rap e bem perto umas correntes de latão brilhando na mesa. Havia bolsas, blusas, sapatos, remédio cura todos esses vermes. Aqui, pra acabar, cortador de legumes, você ainda leva um ralador multifiuncional. Mais bolsas, brinquedos, falsificações, cds, dvds. Agora a música já é outra um brega de corno, qualquer coisa melosa sobre a traição da amada. Bolsas, cds, uma esmolinha pelo amor de Deus pro pobre cego. Muita coisa, muita coisa e eu paro pra ver uma saia indiana. Quanto é?. É com ela que você fala. É trinta e cinco, essas duas aí. Ah, tá, brigada. Viro pra trás. Olha aqui moça, sem compromisso. Não, não obrigada, é que eu estou com pressa. Só faz um teste moça. Um senhor já meio grisalho, um macunaíma aposentado pega meu braço. As mãos meio encardidas. Aperta o spray de um vidro de perfume. Experimenta. Levo o pulso as narinas. Bom, né? Leva pra você fazer propaganda. Me estende o vidro com aparência meio gasta, com as letras do rótulo meio apagadas. Não obrigada, faço propaganda de graça. Então tá. Eu me viro rumando o semáforo fechado. Tchau linda! Tchau. Linda, linda era o nome do perfume...

sábado, dezembro 02, 2006

falsas sensações

flui
um som
maduro
de polpa firme
cor vistosa
como manga rosa
a faca talha um pedaço
a polpa e a cera do ouvido
...
nada

puro agrotóxico!

Sambemos!

Sambemos!
Porque a vida dança
ao som da cuíca
Batuque na mesa, amigo
Batuque na dor
pra sair som
de choro e a alegria
é coro,
é couro
de gato esticado
no tamborim

Sambemos!
Pra rasgar a sola,
o pé
e o chão
Pra chegar no inferno
E esfolar logo o corpo inteiro
E ver cada muscúlo pulsar
Quando a mão
atingir o pandeiro

Sambemos!
De um jeito novo cada dia
Com jeito de sempre
Assim como quem só dá um passinho
Mas se prepara para uma odisséia
Tracemos um rumo
num passo bêbado
de notas,
dessas estaladas

Sambemos!
E não ouse sambar por mim
Que meu gingado não é pragringover
é puro
puro
tum
tum
tum
e estoura!

(dedico esse poema mal talhado a todos os sambistas que nunca verão esses versos)
Feliz dia do Samba pra você também!