domingo, dezembro 03, 2006

linda

Indo pra rodoviária. Estava atravessando aquele mar de camêlos. Barracas vendendo de tudo. Tinha meia 3 por 5 para dar de presente pros filhinhos. Olho pro lado e tem a torre enorme. Tava meio nublado e a torre ficava imponente ali parada, apontando o céu. Um céu que os comerciantes de cds piratas de música gospel deveriam almejar. Eu andando ao som do pagode de Jesus. Mais uns passos e, dvd baratinho, vamo lá freguesa. De repente o moço começa a recolher os dvds estendidos num lençol. Parece que é fiscal. Anda homem, é fiscal. A moça de calça preta colada no corpo e celular pendurado no pescoço passa por mim correndo . Logo, ela já está voltando aliviada, alarme falso. A muamba volta pro chão. Agora já entoa um rap e bem perto umas correntes de latão brilhando na mesa. Havia bolsas, blusas, sapatos, remédio cura todos esses vermes. Aqui, pra acabar, cortador de legumes, você ainda leva um ralador multifiuncional. Mais bolsas, brinquedos, falsificações, cds, dvds. Agora a música já é outra um brega de corno, qualquer coisa melosa sobre a traição da amada. Bolsas, cds, uma esmolinha pelo amor de Deus pro pobre cego. Muita coisa, muita coisa e eu paro pra ver uma saia indiana. Quanto é?. É com ela que você fala. É trinta e cinco, essas duas aí. Ah, tá, brigada. Viro pra trás. Olha aqui moça, sem compromisso. Não, não obrigada, é que eu estou com pressa. Só faz um teste moça. Um senhor já meio grisalho, um macunaíma aposentado pega meu braço. As mãos meio encardidas. Aperta o spray de um vidro de perfume. Experimenta. Levo o pulso as narinas. Bom, né? Leva pra você fazer propaganda. Me estende o vidro com aparência meio gasta, com as letras do rótulo meio apagadas. Não obrigada, faço propaganda de graça. Então tá. Eu me viro rumando o semáforo fechado. Tchau linda! Tchau. Linda, linda era o nome do perfume...